Nesta quarta-feira, os salões do Copacabana Palace serão abertos para um rega-bofe que, para quem foi convidado, será um acontecimento. Será a festa de Jubileu de Ouro da Confederação Brasileira de Automobilismo (CBA). Idealizada por Wilson Fittipaldi, o “Barão”, por Eloy Gogliano e Ramon Von Buggenhout, a CBA surgiu para livrar o esporte e os pilotos do jugo do Automóvel Clube do Brasil, que se julgava a entidade soberana do desporto automobilístico.
Se os tempos fossem outros, o Jubileu de Ouro da CBA seria realmente motivo de júbilo, de comemoração.
Mas quando lembramos tudo o que vem acontecendo com o automobilismo brasileiro nos últimos tempos, cabe a pergunta:
Comemorar? Comemorar o quê?
Fazer uma festa para francês, ou melhor, para Jean Todt ver? Para que o presidente da FIA saia daqui com uma boa impressão, de que o automobilismo de consumo interno é forte, que há pilotos em profusão, patrocinadores e categorias? Sim, porque para a CBA tudo está perfeito, a chicane da Curva do Café é um sucesso, não há mortes, tampouco acidentes graves.
É claro que nada corresponde ao que é real, ao que é verdadeiro e ao que somos testemunhas, de uma administração pífia, inapetente e incapaz.
Por conta da crise que permeia o automobilismo nacional desde a sua base, que é o kart, assistimos às duas categorias de monoposto que aqui correm, se arrastando com números ridículos de competidores, dignos de pena. A Fórmula Futuro, categoria apadrinhada por Felipe Massa, por mais que tenha reduzido os custos, não seduz os pilotos vindos do kart. Houve renovação? Sim, posto que dos onze nomes que disputaram pelo menos uma rodada dupla, apenas dois (John Louis e Johilton Pavlak) disputaram a temporada de 2010. Mas mesmo com a temporada custando R$ 200 mil/ano, André Pedralli só apareceu na primeira prova e agora foi a vez de Pavlak cair fora. Nove carros correram em Interlagos. É pouco, muito pouco.
Mas pior ainda está a Fórmula 3 sul-americana. A rodada tripla de Caruaru foi um desastre em matéria de comparecimento de carros e equipes. Salvo engano, só estavam lá sete monopostos e poderia ter sido pior se não fosse a presença do piloto da Fórmula Truck Beto Monteiro, que ‘engrossou’ o grid – um expediente, aliás, do qual a categoria tem constantemente se socorrido para justificar as corridas.
Tem muita coisa estranha, aliás, por trás da atual fase da Fórmula 3, que nas mãos de gente competente como Alan Magalhães e Toninho de Souza, vivenciou grandes momentos até 1996. Naquele ano, porém, o olho das equipes cresceu ante uma proposta de uma emissora de televisão e aí, já viu. Criou-se a Fórmula 3 binacional e os argentinos, que não têm os monopostos como prioridade, um por um, foram caindo fora. Só restaram os times brasileiros e nem entre eles existe união, existe unidade.
A CBA deveria preocupar-se com isso. A formação de talentos. Deveria olhar para o calendário e perceber, em algum momento, que chegaremos em 2011 a 20 anos sem um título de brasileiros na Fórmula 1. Deveria saber que desde a morte de Ayrton Senna, são cada vez mais raros os títulos de pilotos brasileiros no exterior e um dos últimos que ainda nos fez vibrar foi João Paulo de Oliveira, na Fórmula Nippon, ano passado. Justiça seja feita a César Ramos, guri do Rio Grande do Sul que venceu na Fórmula 3 italiana e merece ser lembrado. O blogueiro aqui ia se esquecendo dele…
A CBA deveria se preocupar com a segurança dos carros das categorias nacionais e com a segurança dos autódromos. E mais do que tudo, deveria se opor contra o sucateamento dos circuitos e lutar para que o esporte crescesse na opinião pública, trazendo a mídia para jogar junto ao seu lado. Mas a reputação de Cleyton Pinteiro e seus asseclas não tem sido das mais recomendáveis em pouco mais de dois anos no comando da entidade.
Espero pelo discurso dele amanhã na festinha do Copa, à qual (felizmente) não fui convidado – e aliás, não só eu, como muitos outros jornalistas e, pasmem, nomes que representaram dignamente o automobilismo brasileiro, como Jan Balder, um homem que fez muito mais por este esporte do que outros que se jactam de serem pessoas poderosas. Vamos ver qual o conto do vigário que será passado para os ouvidos de Jean Todt – se é que o francês se dará ao trabalho de ouvir tudo o que será dito aqui no Rio de Janeiro.
Hipocrisia tem limite.